sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Patrimônio egípcio em perigo!


Com os recentes conflitos entre a população civil clamando por democracia (após a derrubada da ditadura na Tunísia) e a firme ditadura que mantêm Hosni Mubarak no governo do Egito há 30 anos, viu-se em reportagens televisivas durante a semana as ações de vandalismo e saques em vários museus e dentre eles o Museu do Cairo, inaugurado em 1863, localizado no centro da cidade, na praça Tahrir.
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Com aproximadamente 12.000 peças em exposição que compreendem todo o período histórico egípcio estima-se que mais 150.000 artefatos ainda estejam por serem descobertos pelas escavações arqueológicas nas cavernas e possivelmente transferidos à reserva técnica dos museus locais.
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Durante os atos de vandalismo várias peças foram roubadas ou destruídas, expositores tiveram seus vidros quebrados e duas múmias do túmulo de Tutankhamon foram danificadas. O prejuízo só não foi maior, pois em um ato de consciência patrimonial valoroso os manifestantes contra a presidência se reuniram em uma grande corrente, de braços dados em frente ao museu para impedir que este fosse invadido, uma vez que a força policial só chegou ao local horas depois. Mesmo assim os vândalos conseguiram entrar pelo telhado da instituição.
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No dia 2 de fevereiro, novamente o museu se viu sob risco, tendo parte de uma parede lateral incendiada com o lançamento de coqueteis molotv durante o confronto na praça Tahrir.
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Tais fatos colocam em risco o pleito que Egito e Grécia têm feito à UNESCO para que as peças que lhes foram saqueadas durante a viagens ultramarinas da potências européias e mais tarde com o imperialismo do século XIX, e hoje estão expostas no Museu do Louvre (Paris) e no Museu Britânico (Londres), sejam devolvidas às suas regiões de origem. A grande argumentação dos governos da França e da Inglaterra para a manutenção da "guarda" dessas peças tem sido o fato das mesmas serem consideradas "patrimônio da humanidade" e serem os países europeus detentores de melhores condições para a salvaguarda desse tesouro da antigüidade (financeiras, segurança e acesso ao público estrangeiro).
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Espera-se que a situação política no Egito encontre sua resolução, que a democracia triunfe e que seu patrimônio cultural que é de todos nós também residentes no ocidente, seja conservado, preservado e divulgado. A história agradece!

A universidade e as "panelinhas políticas": reflexões contemporâneas


Há algum tempo minhas ideologias à respeito da universidade como pólo de posicionamento crítico e conscientizador dos direitos de cidadania se esvaíram. Na arena das ciências humanas e sociais confrontam-se partidarismos publicizados neste ou naquele corredor, nesta ou naquela instituição de ensino superior pública ou privada onde sempre há os defensores viscerais de marxismos, trotskismos ou seus antagônicos capitalismo e neoliberalismos. Discursos inflamados são proferidos em sala de aula (por alunos ou professores), em sindicatos, centros acadêmicos, DCE's ou quaisquer outras instâncias pseudo-representativas que não se furtam à lançar mão de teorias, jargões e/ou alguma bibliografia ás vezes consistente e outras vezes somente um copy e paste de introdução e conclusão do livro de algum renomado cientista político ou econômico que possa reforçar suas idéias. Isso sempre me causou profunda irritação, até mesmo porque salvo os rotulados "direitistas" (que em parte são mais condizentes quanto suas ações), aqueles que pregam uma fala de "esquerda" - com raríssimas exceções - são os primeiros a se corromper diante da oferta de um cargo comissionado, uma gratificação, uma exposição pública que lhes garanta status e algum poder, que nesses casos de forma alguma é "socializado com as massas". Dessa forma todo o conteúdo se esvazia e a deseperança toma conta das novas gerações que são gestadas em meio à compra de idéias distorcidas ou de uma alienação justificada pela falta de credibilidade naqueles que se propõem como lideranças.
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A universidade cada vez mais enfrenta esses dilemas e seus circuitos internos povoados de professores mestres e doutores vêem em grande parte o poder decisório concentrar-se nas mãos de ditos intelectuais sem produtividade acadêmica, que buscam ocupar postos como "delegados", representantes em "comissões", bancas ou quaisquer outros meios que lhes dê alguma projeção enquanto em seus pífios currículos lattes amargam um ostracismo de 5 ou mais anos sem qualquer publicação científica. A esses, pela incapacidade de se posicionarem como "produtivos" só restam as relações de amizade e compadrio que remontam o personalismo há muito já tratados por Sérgio Buarque de Hollanda em seu clássico Raízes do Brasil (1930).
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Imiscuídos nesses "círculos de poder" assumem coordenações de cursos de graduação, pós-graduação, pró-reitorias ou reitorias e excluem aqueles verdadeiramente "produtivos" que possam lhes ofuscar ou ao menos revelar sua inconsistência no meio universitário.
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Cada vez presenciamos mais professores universitários confinados em si mesmos, uma vez que em seus próprios departamentos ou programas de pós-graduação não são valorizados pela sua produção por seus pares, sendo excluídos e até mesmo substituídos por aqueles que conseguem ser "aprovados pela panelinha". E nesse rol encontram-se professores que "dizem" desenvolver projetos de pesquisa há mais de um ano, mas que não apresentam sequer resultados parciais de tais pesquisas em anais de eventos, que sequer enviam um texto com 1.200 caracteres para divulgação em jornais de circulação popular e muito menos publicam em periódicos acadêmicos qualis A ou B. Na verdade não publicam em lugar algum. E estes infelizmente estão se tornando a regra.
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Claro que existem exceções, mas são aqueles cada vez mais bombardeados dentro da academia como "elitistas", "produtores em massa", "alimentadores de um sistema fordista CNPq ou Capes" e por aí vai. As opções de sobrevivência para esses professores cada vez mais se restringe a:
1) Igualar-se aos "não-produtivos" para ser integrados em suas panelinhas de jogos de poder e interesse (uma vez que contam as relações interpressoais e não o perfil acadêmico de qualidade);
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2) Isolar-se e ser alijado de processos decisórios (bancas de mestrado/doutorado; comissões universitárias; bancas de concurso), seguindo solitário com sua produtividade;
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3) Enfrentar abertamente as panelinhas (já em posição desvantajosa por não possuir ele uma "panelinha quantitativa ou significativa em termos de relações políticas" para medir forças) e ser classificado como: "louco", "pavio-curto", "destemperado", "instável", dentre outras adjetivações recorrentes e sinônimas.
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Nesse sentido, em meio à um quadro de proliferação de campi universitários federais no Brasil, cada vez mais essa condição se prolifera de norte a sul do país. E cada vez mais embora a teoria seja diversa, na prática ensina-se aos alunos universitários que o sucesso profissional não depende de seu estudo e qualidade, mas sim das redes de relação e inserção nos jogos políticos da universidade.
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Para além de "esquerdistas" ou "direitistas" na academia, são as panelinhas de "privilégio" que ascendem e tomam conta dos espaços "silenciosamente", sem faixas, sem piquetes, sem algazarras, sem caras-pintadas.
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Por isso, se você é um futuro graduando ou pós-graduando e deseja conferir tais argumentos aqui expostos, verifique o currículo lattes de seus professores no site do CNPq (http://www.cnpq.br/) e compare suas ocupações de postos na academia. Certamente essa "primeira pesquisa" lhe dirá quem é quem no reino da "falsa criticidade acadêmica".
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Salve a massa ignára! Ao menos ela legitimamente não sabe o que faz...já os mestres e doutores...